Creio que muitos dos que lêm este blog se lembram desta icónica frase. Anos 80, anúncio a um desodorizante em spray.
“E se, de repente, um desconhecido lhe oferecer flores… isso é Impulse”.
Há muitas frases que vão ficando na nossa memória. Outra delas aprendi-a com a minha mulher. “Quando é bom demais para ser verdade, é porque é bom demais para ser verdade”.
Falta mais uma parte para completar a “trilogia” que me fez escrever este post e fazer-vos perceber onde quero chegar.
Há alguns anos (achava eu que foram 3 ou 4, mas vendo bem acho que foram mais…) chegava à empresa onde trabalhava na altura e fui abordado por uma colega, a “Isabel” (nome fictício, claro) que me “dispara” esta pérola:
Ela: “Olha, apareceu-me aqui no computador uma mensagem”
Eu: “E que mensagem era?”
Ela: “Não sei, não vi bem…”
Eu: “E tu, o que fizeste?”
Ela, percebendo pela minha cara que já esperava a resposta que ela ia dar: “Carreguei… no SIM…”
Para quem me conhece bem, há alguns anos era totalmente natural “passar-me dos carretos” com coisas destas. Aconteceu muitas vezes. Daquela vez mudei de estratégia e inventei uma situação para tentar explicar melhor a mensagem que queria passar.
Eu: “Imagina que um desconhecido te aborda na rua e te pede €20. O que fazes?”
Ela: “Não dou”
Eu: “Claro, porque não o conheces de lado algum… até te digo mais, tu só dás os €20 se conheceres a pessoa e se tiveres confiança nela. E se tiveres €20 na carteira.”
Terminei a conversa com estas frases: “Quando as pessoas perceberem que temos de ser com os computadores como somos no resto da vida, tudo será mais simples. Aparece uma mensagem… lê o que lá está. Por omissão respondes NÂO. Só respondes sim SE. SE perceberes o que te está a ser pedido. SE perceberes de onde veio aquela mensagem. SE conheceres a aplicação que te está a pedir aquilo. SE conseguires perguntar a alguém que está mais por dentro do assunto e SE ele te disser que podes responder sim. Mas em todos os outros casos, NÃO. Aqui ou no resto da tua vida, só respondes sim “SE”. Até as pessoas perceberem isso e deixarem de dizer que não são informáticas para saberem essas coisas vão continuar a existir estes problemas”.
Lembrei-me disto por causa de um dos assuntos do momento, para além de Fátima, Futebol e Festival da Eurovisão. Ransomware. De repente computadores com mensagens a dizer que os ficheiros estão encriptados e se não pagarem um X vão apagar tudo do seu computador.
Esta vaga de infeccções deveu-se, em parte, a uma falha de segurança num componente do Windows, presente apenas em versões antigas e em que até já havia um patch de segurança que resolvia a questão mas que não tinha sido aplicado nas máquinas que ficaram infectadas. Isso é um outro assunto que provavelmente quero abordar em outro post.
Mas não foi essa falha que fez com que a infecção começasse. Provavelmente foi um anexo de email que alguém resolveu abrir, porque… porque sim. Quem não recebeu um mail de um “amigo” que não conhecemos de lado algum com as “fotos do fim-de-semana passado”, aquele que passámos em casa com a família? Que não recebeu um mail do banco a dizer que tem uma transacção para aprovar sem ter ido ao banco nem ter feito uma transacção? Quem não tem uma encomenda da UPS ou da DHL à sua espera em qualquer lado mas não encomendou nada? Quem não recebeu um mail da Google a pedir para confirmar as suas credenciais respondendo com utilizador e password? Já nem imagino as que ainda acreditam que há alguém na Nigéria que desesperadamente necessita de um sócio para retirar dinheiro de lá a troco de 10% do valor mas precisa primeiro de algum dinheiro para inciar o processo. E claro, está lá um link para qualquer lado que não sabemos bem ou pior ainda, um anexo qualquer que resolvemos abrir “para ver o que é”. Claro que se um desconhecido de repente lhe pedir para ir para um beco para ver uma coisa qualquer… todos iríamos, não era?
Há muitos anos dei um raspanete a um colega porque ele resolveu abrir um anexo que vinha não-sei-de-quem com o texto não-sei-quê e com um anexo não-faço-ideia-nenhuma. Automaticamente o computador ficou infectado e teve de ser reinstalado. Felizmente a primeira coisa que ele fez foi ligar-me mas esse minutinho em que o pc esteve na rede, em termos informáticos, é uma eternidade.
Sejemos com os nossos computadores como somos com o resto. “NÃO” é a resposta por omissão. E, já agora, quando vêm uma actualização do sistema operativo, façam-na, pela saúde do vosso computador.
Se, de repente, um desconhecido lhe oferecer qualquer coisa…